O Google Assistente não vai mais “deixar para lá” falas machistas, homofóbicas, racistas e preconceituosas de maneira geral. Em evento realizado pelo Google nesta terça-feira (3), a empresa agora adota um novo posicionamento quando o assistente virtual é confrontado por palavrões ou preconceitos.
No Brasil, quando o Google Assistente é questionado sobre a própria personalidade – perguntas como “você é bonita?”, “como você está?”, “você é engraçado?” –, 2% desses chamamentos são para abordagens abusivas – “sua p*ta”, “você é burra”, “vamos transar” –. Destes, 15% são sobre abusos verbais que contêm termos misóginos ou assédio sexual.
Para isso, a equipe da Arpita Kamur, estrategista sênior de conteúdo do time de personalidade do Google Assistente, começou um projeto para entender a melhor abordagem para evitar esses abusos – que, no fim do dia, acabam se refletindo na sociedade de maneira geral. Foram quatro passos:
- Verificar quais são as frases mais problemáticas;
- Categorizá-las;
- Procurar padrões para criar estratégias que podem ser escaladas;
- Abordagem para falar de forma firme para que o usuário entenda o problema daquela fala.
Google Assistente é mais assertivo no Brasil
Enquanto nos Estados Unidos a empresa entendeu que o Google seria bastante educado, mas ao mesmo tempo não traria tiradas irônicas ou com uma pitada de humor, o Brasil tem uma pegada diferente.
A head de Marketing do Google Assistente para América Latina, Maia Mau, explica que o Brasil decidiu tirar o “por favor” da boca do Assistente ao ser questionado com uma fala inapropriada. “Não fale assim comigo” e pronto.
Para questões problemáticas, mas não necessariamente abusivas, o Assistente brasileiro aprendeu a dar um “fora” com humor. Ao ser questionado se o assistente virtual gostaria de casar com o usuário, ele responde:
Acho que um romance entre nós seria complicado, mas posso ajudar a marcar seus encontros na agenda 😉
Entre os dados compartilhados com jornalistas, o Google diz que o Brasil é o terceiro país com mais usuários ativos do Assistente, que o uso dele dobrou no último ano e que somos um mercado prioritário para novidades.
Também para evitar que a voz do Google Assistente seja predominante feminina, a empresa chama as vozes por cores: laranja ou vermelha, que são distribuídas igualmente em 50% para os usuários, significando que metade receberá a primeira opção como voz laranja e a outra metade terá a segunda opção como voz vermelha ao configurar o assistente pessoal pela primeira vez.
Um dado importante, também, é a diferença entre os abusos das diferentes vozes:
Vermelha (soa como voz feminina)
- Palavrões: 51%
- Aparência física: 22%
- Misoginia: 12%
- Propostas de casamento: 11%
- Assédio sexual: 3%
- Homofobia/Ameaças: 1%
Laranja (soa como voz masculino)
- Palavrões: 55%
- Aparência física: 13%
- Propostas de casamento: 11%
- Homofobia: 9%
- Assédio Sexual: 4%
- Masculinidade tóxica/Ameaças: 1%
Regionalismo e lançamento da novidade
O Google Assistente do Brasil também está de olho nas particularidades do país. Apesar de que o assistente virtual precisará de tempo para abarcar a maior parte das falas problemáticas, algumas já estão contempladas. Por exemplo, em relação a xenofobia com nordestinos, o Google Assistente também dará respostas assertivas sobre as falas.
Por fim, o Assistente depende de contexto, portanto, se o usuário disser “cachorra”, ele entenderá que o usuário busca informação de “cachorros”, diferente de ao ouvir “sua cachorra”.
Apesar do evento ter sido realizado nesta terça, o Google já disponibiliza essas respostas mais assertivas desde o começo do ano. Ainda não há números concretos das tréplicas que o usuário dá, mas nos Estados Unidos, houve uma melhora no comportamento dos usuários, que costumam pedir desculpas ou perguntam o motivo da fala ser problemática.