Abre o notebook. Clica no botão de iniciar. Espera um pouco. Login, senha. Abre o Skype, o Outlook. Espera mais um pouco. Já pode começar a navegar no Chrome. Ah, sim, desculpa. Esta é a análise do iPad de 7ª geração, o novo tablet de entrada da Apple, que a empresa diz ser melhor do que a maioria dos notebooks vendidos nos Estados Unidos no último ano.
Então me deixa desenrolar o Smart Keyboard, tocar no botão do Touch ID e abrir as Notas. Pronto. Podemos começar?
Anunciado em setembro, durante o evento dos novos iPhones, o iPad de 7ª geração chegou em outubro ao Brasil. Disponível em cinza-espacial, prateado e dourado, esse iPad tem um chip duas vezes mais rápido que a geração anterior e diferente do iPad de 6ª geração, que só estreava o suporte ao Apple Pencil, temos agora suporte ao Smart Keyboard, a capa-teclado da Apple que não precisa ser carregada e nem se conectar por bluetooth. Encaixou e pronto.
De diferente na estrutura do iPad, além desse conector, é que a tela retina cresceu um pouco. Agora com 10,2 polegadas, ela também conta com uma camada antirreflexo e contra a oleosidade da mão – menos marcas de dedo. O que ela perde de todos os outros iPads vendidos é o True Tone, que ajusta a cor da tela de acordo com o ambiente.
A Apple segue neste iPad a iniciativa de usar alumínio 100% reciclado na estrutura – o mesmo é válido para os novos Apple Watches e MacBook Air. De canudo em canudo, é importante ver empresas de tecnologia sendo mais proativas contra a pegada de carbono que elas deixam anualmente.
Ao pegar este iPad para testar, cedido pela assessoria da Apple, a minha dúvida era: consigo usar este tablet como computador? E por computador eu quero dizer: dá para repetir a experiência de uso que eu tenho com o iPad Pro de 2ª geração como PC?
Há um ano e meio, ao analisar o então tablet mais potente da Maçã, que rodava o iOS 11, eu disse que “sim”, ele poderia substituir um computador – e desde então, readequei o meu uso para uma vida mobile.
De especial, o iPad de 7ª geração é o primeiro a estrear o iPadOS 13, que eu pude acompanhar o lançamento lá na WWDC19, nos Estados Unidos. O sistema operacional voltado para os iPads traz mais funções de produtividade do que nunca.
Para o meu uso como jornalista, o Files ter um descompactador de arquivos zip, o Safari ter um gerenciador de downloads e o Split View permitir deixar duas notas abertas foram essenciais para o meu dia a dia e só foram possíveis no novo sistema operacional.
O iPadOS 13 traz também o modo escuro, vários truques para editar texto que eu nunca decorei e o teclado, vendido a parte, tem ainda mais atalhos estilo Mac que eu ainda não aprendi. Ainda bem que o iPad é multitouch.
Para usar este tablet, também fiquei na dúvida no tamanho dele. Afinal, são 10,2 polegadas contra 12,9. No final, algumas coisas ficaram menores, mas as páginas se adequam automaticamente para o padrão. O teclado, que acaba por ficar mais estreito, também é simples de se readequar e apesar de ser igual a todos os outros Smart Keyboards – exceto o do mais novo iPad Pro – ele me parece mais firme para usar tanto no colo quanto na mesa.
Como o meu uso de produtividade é muito mais focado em texto e foto, os aplicativos principais para mim são o Notas, o Pixelmator, o Adobe Spark Post, o Files e o Safari. De resto, estou sempre com o Apple Music de fundo e acessando as fotos e as redes sociais. De vez em quando, escaneio um documento com a câmera principal de 8MP sem problema ou faço um FaceTime com a câmera de selfie ligeiramente sofrida de 1,2MP.
O processador A10 Fusion, que é duas vezes mais rápido que o chip do iPad anterior, aguenta todas as tarefas, apesar de ser sempre um ou dois segundos mais lento que o iPad Pro de 2ª geração com o processador A10X Fusion. Aqui, o que dá uma ajudada são os 4GB de RAM no modelo Pro, enquanto o de sétima geração conta com 3GB. Também, diferente do que era comum de se ver, essa linha X do chip foi a primeira a dar um salto maior de processamento e sair dos 16nm para 10nm de tamanho.
Da produtividade para o lazer e o iPad por ele mesmo
A graça do iPad é que quando você não está trabalhando, ele é uma excelente plataforma para matar o tempo. Seja com os serviços próprios da Apple, com o Arcade e o TV+, até para assistir Netflix, ler o jornal ou jogar Sky: Children of the Light.
É aqui, por exemplo, que o Apple Pencil brilha. Abrir o Notas – ou um app específico – e simplesmente ficar desenhando ou escrevendo é relaxante – e você lembra quando foi a última vez que parou para escrever algo à mão?
Um ponto negativo deste iPad é o tempo que ele demora para carregar. Não importa se você usa a tomada de 10W ou a de 30W, do MacBook, ele demora uma eternidade para carregar, mas sempre pode piorar, caso você use a de 5W do iPhone nele. Eu consegui 15% de carga em uma hora, mesmo sem estar usando o tablet.
Por outro lado, a promessa de 10 horas longe da tomada é verdadeira e dura até mais. Eu não preciso me preocupar em ficar sem carga ao longo de um ou dois dias.
Outra coisa que me preocupa também é a vida útil do processador A10 Fusion. Tudo bem, ele tem durado bem até agora – o iPhone 7 tem três anos – mas quão mais longe ele vai? E com a Apple dando um empurrão para desenvolvedores fazerem sempre uso dos chips mais novos, pode ser que a vida desse iPad seja comprometida em até dois anos, quando o chip já estiver completando cinco anos.
Conclusão
Por fim, é importante ressaltar a dependência que a Apple cria com os acessórios no iPad de 7ª geração. Por si só, o iPad é um excelente tablet e você consegue usá-lo 100% por conta própria, mas a experiência de um Smart Keyboard ou Apple Pencil deixa tudo muito mais simples.
Imagina que você vai para a faculdade só com o iPad. Ok, você diminui o teclado e usa o Quickpath. Mas um teclado físico te deixa bem mais produtivo. O mesmo vale para desenhar ou criar: dá para fazer com o dedo. O tempo de resposta da tela é ótimo. Mas o Apple Pencil deixa tudo mais preciso.
Como a Apple não vende nenhum pacote e apenas o tablet entra no programa de desconto educacional (10% sobre o produto), também me faz perguntar o quanto, no Brasil, o iPad substitui um computador para o consumidor que quer fazer essa transição.
O modelo de 32GB tem o preço de R$ 2.999, um aumento de 10%, mais ou menos, em relação à versão anterior, mas se você juntar mais um acessório, você gasta R$ 1.049 no Smart Keyboard ou R$ 749 no Apple Pencil. E aí, com pelo menos R$ 4.000 na mão, não estamos mais falando de um notebook de entrada, mas algo bem mais poderoso. Para ter mais armazenamento, por exemplo, há uma opção de 128GB que custa R$ 3.799.
Nos Estados Unidos, a efeito de comparação, também é possível adicionar mais da metade do preço do iPad de entrada (US$ 329) na hora de comprar os acessórios.
O veredito é: o iPad de 7ª geração é o ápice daquele iPad original como o conhecemos. Se você estiver vindo de um Air original ou qualquer coisa para trás, é este o modelo para ficar de olho. Ele é rápido, confiável e o iPadOS faz toda a diferença no uso do tablet.
Minhas ressalvas, para os nerds, fica na vida do processador e de maneira geral na bateria que poderia carregar mais rápido. Se é um tablet que você procura, você o achou e se tentar fazer a transição dele como o seu computador, acredito que terá uma surpresa agradável. Afinal, para o consumidor final, para que serve um computador?