Lembra aquela história de que a União Europeia obrigaria a Apple a adotar a entrada USB-C no iPhone? Pois bem, veio aí. A verdade, no entanto, é que a regra não valerá apenas para a Maçã, mas para todos os dispositivos eletrônicos comercializados no continente a partir de setembro de 2024.
Após quase uma década de discussões acerca do tema, a Comissão Européia, parlamento que desenvolve a legislação do bloco decidiu que, a partir de setembro de 2024, todos os dispositivos eletrônicos portáteis terão de vir, por padrão, com portas USB-C.
Além dos smartphones, a medida também afeta tablets, videogames de mão, câmeras digitais, fones de ouvido e leitores eletrônicos, como o Kindle. No futuro, laptops também serão obrigados a seguir a determinação.
Pelo direito ao carregador comum
“Hoje, fizemos do ‘carregador comum’ uma realidade na Europa. Durante muito tempo, consumidores europeus estiveram frustrados com múltiplos carregadores surgindo a cada novo dispositivo. Agora, eles poderão utilizar um único carregador para todos os seus equipamentos eletrônicos portáteis”, afirmou o relator da norma e membro do parlamento europeu, Alex Saliba.
Conforme destaca o The Verge, a legislação ainda precisa completar os trâmites formais no parlamento Europeu. Apesar disso, um comunicado do parlamento à imprensa garante que a lei estará em vigor a partir do outono de 2024. A partir de então, todos os dispositivos contemplados pela norma precisarão utilizar o padrão USB-C para recargas com fio.
Segundo o relatório que dá origem à norma, seu objetivo, para além de tornar as vidas dos consumidores europeus mais fáceis, também inclui a redução do lixo eletrônico. Isso porque, tal como já ocorre em boa parte dos smartphones, a expectativa é de que, no futuro, os demais dispositivos eletrônicos também sejam vendidos sem um carregador na caixa.
Dessa forma, ao padronizar o USB-C como meio de carregamento por fio, a UE garante que seus consumidores poderão utilizar os acessórios que já possuírem em casa.
Mais do que isso, a estimativa do bloco é de que os consumidores da região poderão economizar mais de 250 milhões de euros por ano, evitando a compra de carregadores “desnecessários”, bem como cortar até 11 mil toneladas de lixo eletrônico anualmente.
Como a medida pode afetar o iPhone?
Muito embora os parlamentares por trás da lei neguem que a norma tenha sido idealizada com algum alvo em mente, é razoável concluir que a Apple, ou, mais especificamente, o iPhone, será o principal dispositivo afetado pela medida, uma vez que a maioria das demais fabricantes de tablets e smartphones, bem como o próprio iPad Air 5, lançado em 2021, já utilizam o novo padrão.
Só em 2021, também como destaca o Verge, a Apple vendeu 241 milhões de iPhones, dos quais 56 milhões tiveram a Europa como destino. Ainda assim, é difícil imaginar que a norma tenha a Apple como foco, visto que começou a ser desenvolvida há muito tempo, quando o padrão microUSB ainda era uma novidade em dispositivos eletrônicos.
Seja ou não um alvo da medida, a Maçã ainda pode escapar do USB-C no iPhone. Conforme revela o comunicado destinado à imprensa, a norma só obriga a utilização do padrão em carregamentos com fio, e, há muito tempo, discute-se a possibilidade da empresa lançar um smartphone sem portas, ou seja, recarregável apenas por tecnologias wireless.
Em 2021, um porta-voz da companhia afirmou à Reuters que a Apple se preocupa com a normatização excessiva dos padrões técnicos utilizados em tecnologia. Para a empresa, a medida acabaria desencorajando a inovação. Além disso, a empresa alega que acabar com o Lightning “a força” só criaria mais lixo eletrônico, uma vez que inutilizaria todo o ecossistema de acessórios que incorpora o conector.
Apesar disso, os parlamentares responsáveis pela regra rebatem, e dizem que “não estão escrevendo nada em pedra”, explicando que a norma deve ser atualizada conforme novos padrões melhores surgirem. Ainda assim, resta a dúvida: se não for permitido vender nada sem USB-C na Europa, como um novo padrão poderá surgir?
Particularmente, não vejo como nenhuma dessas medidas poderia prejudicar a Apple. Afinal, caso a empresa realmente consiga seguir seus planos de um iPhone sem portas até 2024, terá abandonado o Lightning de qualquer forma.
Por outro lado, caso o plano não dê certo e a empresa tenha mesmo que trocar de conector, as vendas do primeiro iPhone com USB-C devem explodir, uma vez que muitos irão querer migrar.
Paralelamente, caso a norma não existisse e houvesse a possibilidade da empresa transicionar gradualmente seus conectores para o USB-C (adotando-os somente no iPhone Pro, por exemplo), a “morte” do Lightning certamente seria bem menos traumática, inclusive para os consumidores que já possuem acessórios com ele.
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