Depois de dar alguns detalhes sobre o comportamento do corretor automático do iPhone, o ex-engenheiro da Apple, Ken Kocienda, revelou em seu Twitter o porquê do modelo original, lançado em 2007, não ter a função copiar e colar, tão trivial hoje em dia.
Segundo Kocienda, o motivo foi, pura e simplesmente, falta de tempo. Isso mesmo.
No tweet em que contou esse detalhe, o ex-engenheiro explica que, à época do primeiro iPhone, ele e sua equipe já estavam tendo muito trabalho para desenvolver o autocorretor do teclado e que, por isso, a opção para copiar e colar ficou postergada para um futuro próximo.
Finalmente, o recurso foi implementado na terceira geração do aparelho, o iPhone 3GS. Lançado em 2009, ele e todos os dispositivos compatíveis com o iOS 3.0, ou seja, incluindo os dois modelos anteriores, ganharam o recurso.
Mas, afinal, o que tornava tão difícil implementar o “copiar e colar” no iPhone?
De 2009 para cá, tanto o autocorretor quanto o copiar e colar do iPhone evoluíram bastante. Talvez por isso, seu começo rudimentar não nos ajude a compreender o porquê dessa funcionalidade ser tão difícil de desenvolver, a ponto de Kocienda, como disse em seu tweet, não ter tempo de deixá-la pronta no primeiro iPhone.
Kocienda explica que, em razão do método de inserção do iPhone ser o touchscreen capacitivo, o que era bastante inovador na época, algumas coisas precisaram ser “reimaginadas” para que a resposta do dispositivo fosse adequada às intenções do usuário.
Por exemplo, para facilitar a seleção do texto a ser copiado, Kocienda teve a ideia de adicionar uma pequena lupa acima da seleção, de modo que o usuário pudesse ver exatamente o que estava selecionando.
Foi Kocienda quem idealizou a lupa que nos permite verificar com mais precisão o trecho selecionado na tela do iPhone
Para além disso, porém, Kocienda também afirma que, muito embora a seleção fosse feita corretamente, era comum que detecções incorretas do touchscreen bagunçassem o trecho selecionado.
Basicamente, toda vez que o usuário levantava o dedo da tela, a camada sensível ao toque detectava um movimento. Durante a interação com botões do sistema, esse fenômeno era naturalmente desprezível, porém, numa interação que exigisse mais precisão no toque, como é o caso da seleção de texto, tal comportamento afetava a usabilidade do sistema.
A fim de corrigir esse problema, Kocienda afirma que precisou desenvolver um novo mecanismo de reconhecimento de toques, utilizado apenas quando o usuário editava um texto.
A função desse mecanismo era prevenir que a retirada do dedo da tela alterasse a posição do cursor de seleção, fazendo com que o sistema respondesse da forma esperada pelo usuário.
O iPhone foi o primeiro dispositivo de tela capacitiva amplamente utilizado, razão pela qual algumas interações a partir do touchscreen precisaram ser refeitas do zero
Você lembra que, até aquela época, a maioria dos dispositivos com telas sensíveis ao toque acompanhavam uma stylus, a vulgo “canetinha”?
Pois é, o acessório se fazia necessário porque, diferentemente das telas capacitivas, como as que temos hoje, telas resistivas tinham uma precisão menor, fazendo com que dispositivos de tamanho reduzido, tal como os smartphones, dependessem de algo com uma ponta fina na hora de selecionar elementos pequenos na tela.
Com o surgimento do iPhone e a disseminação de telas capacitivas em smartphones, além da ser possível tocar a tela em múltiplos pontos simultâneos, o famoso “multi-touch”, a região sensível ao toque também se tornou bem mais precisa.
O motivo por trás disso é que a tela capacitiva utiliza a condutibilidade dos dedos para registrar os toques, o que dispensa a necessidade de se pressionar o display com força. Da mesma forma, também é por isso que essas telas não precisam de canetas ou outros acessórios para serem utilizadas.
Apesar dessa vantagem, as telas capacitivas são “precisas demais”, o que também exigiu ajustes de software para mitigar toques fantasmas, bem como outras reações a movimentos involuntários durante a interação com o dispositivo.
Conforme Kocienda explica na mesma sequência de tweets, foi preciso que os desenvolvedores do iOS criassem uma área virtual ao redor dos elementos na tela. Com isso, era possível que o usuário selecionasse o elemento desejado mesmo quando seu toque não havia sido exatamente “em cima” dele.
Segundo o engenheiro, isso se fazia necessário devido à curvatura dos nossos dedos, que nos dão a impressão de estar tocando uma região acima daquela que, de fato, tocamos.
Pois bem, em 2007, Kocienda estava mais preocupado com essa parte da digitação no iPhone, já que o teclado pequeno, comprimido na tela de 3,5″ da época, não era dos mais confortáveis.
No final das contas, para garantir uma experiência satisfatória, foi preciso desenvolver um sistema que não só compensasse essa falha de interpretação do cérebro, mas que também decidisse como isso afetaria o corretor automático, baseando as sugestões de palavras naquilo que o sistema acreditava que o usuário estava tentando dizer ao tocar a tela.
Ou seja, no final das contas, o sistema era muito mais complexo do que simplesmente registrar o toque na área tocada pelo usuário, e foi por essa razão que o primeiro iPhone carecia de uma funcionalidade – aparentemente – tão simples.
Uau! Daqui deste lado, a gente não têm noção de como algumas coisas podem ser complicadas de se fazer, não é mesmo?
Relacionados: